sexta-feira, novembro 05, 2010

"Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria...

"Árvores cuja volúpia verde punha sombra e frescor no como eram chamadas... Frutos cujo nome era um cravar de dentes na alma da sua polpa... Sombras que eram relíquias de outroras felizes... Clareiras, clareiras claras, que eram sorrisos mais francos da paisagem que se boceja em próxima... ó horas multicolores!... Instantes-flores, minutos-árvores, ó tempo estagnado em espaço, tempo morto de espaço coberto de flores, e do perfume de flores, e do perfume de nomes de flores!..."


Precisava postar algo, em nome do tempo perdido. Sinceramente não tinha esquecido a existência deste blog. O que me realmente preocupa é sobre o que pretendo postar. Poesias de minha própria autoria é uma ideia encantadora, mas o medo de perdê-las está acima de tudo ( posso resumir isso como sendo plágio, maldito o seja! ). Então, vou intercalar entre poemas de meu grado, que apresentem algum significado momentâneo, pelo menos para meu ser, e quem sabe futuramente posto algo em nome do meu ego.
Estou com um livro de Freud nesse exato momento (O Ego e o Id e outros trabalhos - acho que é o número 19). Não vou ter tempo de relê-lo (saiu correta a palavra?!), mas uma pincelada ajuda muito. Voltamos a minha teoria de que não existe nada melhor do que o estudo da mente, do subconsciênte. É tão plurissignificativo.
O motivo do Fernando logo acima?! E o Freud logo em seguida (pensei em fazer uma comédia, mas ia sair tão clichê) ? Saudades de ler algo que faça a mente "germinar" (não achei palavra melhor para resumir isso).
Vamos rumo ao próximo ato!
Vou lembrar de colocar na próxima alguma novidade.

Por Jessica.

P.s: Esse site é tão fofo, mesmo sendo básico (se bem que no desespero, tudo vale, certo?!):
http://www.pessoa.art.br/Index.php?paged=2

sexta-feira, junho 04, 2010

"E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando (...)"

"É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa."

Outra do Charles Bukowski.

quarta-feira, junho 02, 2010

"um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar."


What we can do?

At their best, there is gentleness in Humanity.
Some understanding and, at times, acts of
courage
But all in all it is a mass, a glob that doesn't
have too much.
It is like a large animal deep in sleep and
almost nothing can awaken it.
When activated it's best at brutality,
selfishness, unjust judgments, murder.



Henry Charles Bukowski Jr - nasceu dia 16 de Agosto de 1920, na cidade de Andernach, morreu no dia 9 de Março de 1994, em Los Angeles, pouco depois de terminar o seu último romance Pulp (1994) - foi um grande poeta, contista e romancista alemão. Sua obra é obscena e apresenta um estilo coloquial – sendo ele, violento e despudorado de sua linguagem -, com várias descrições de trabalhos braçais, inúmeros porres e relacionamentos baratos.

Teve como principal influência Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski – tenho que escrever alguma coisa sobre Dostoiévki, preferencialmente sobre Memórias do Subsolo, decididamente na próxima postagem (fiquei realmente animada agora!). Ele conseguiu, com seu estilo singular, transformar situações cotidianas e problemas “adolescentes” em poesia.

Por Jessica.

P.s: Acredito que uma das minhas maiores dificuldades é tentar resumir uma biografia. Acho elas tão incertas, ainda assim, sou obrigada a tentar fazer algo. Espero que elas digam algo. Por mim, só colocaria as melhores poesias, as minhas preferidas, nesse caso! E colocaria algumas das minhas, se é que valem a pena, depois de tantos exemplos tão perfeitos, sinto que de nada valem >.>


domingo, maio 30, 2010

"Meu amor apareceu, o mundo empesadeleceu."

"Se alguma vez você já descascou uma cebola, sabe que a primeira camada, fina e papirácea, revela outra, e mais outra, e antes que você perceba terá centenas de camadas espalhadas pela mesa da cozinha, e milhares de lágrimas nos olhos, e lamentará ter começado a descascá-la e desejará ter largado a cebola para murchar na prateleira da copa enquanto você prosseguia com a sua vida, mesmo que isso significasse nunca mais desfrutar o sabor difícil e avassalador dessa hortaliça estranha e pungente."
(Desventuras em Série, Livro tredécimo, O Fim
de Lemony Snicket).


Li essa série no segundo ano, e até hoje, creio que ela ainda é uma, das várias, que deixou a dúvida necessária para criar os mitos ( ah, meu ponto de vista é o que conta, pelo menos aqui. ) A Series of Unfortunate Events, traduzido para Desventuras em Série, é uma série de treze livros que foi escrita por Lemony Snicket heterônimo de Daniel Handler, com a ilustração por Brett Helquist . A série narra as aventuras de três irmãos muito inteligentes, os órfãos Baudelaire. Violet Baudelaire, a mais velha, é uma inventora e tem catorze anos quando a série se inicia; Klaus Baudelaire, o irmão do meio, é um grande leitor e tem onze anos no começo da trama; e Sunny Baudelaire, a menor, é um bebê que gosta de morder objetos e fala em uma linguagem compreensível apenas para seus irmãos - a sua fala vai se desenvolvendo ao longo da série) A história começa do momento em que as crianças são informadas do falecimento de seus pais, em um terrível incêndio que ocorreu em sua mansão, destruindo-a. E já no primeiro livro, as crianças passam a viver sob a guarda de um primo distante, o Conde Olaf, um homem terrível que tenta roubar a enorme fortuna que seus pais lhes deixaram. A ambientação da história é retrocesso, e a série é repleta de alusões literárias e culturais.
Os livros são destinados para crianças, entretanto são escritos e lidos por adultos, e se formos fazer uma bela interpretação da série, diversas referências serão compreendidas - pelo menos para quem tem uma visão apurada, sure!
Começando pelos nome dos órfãos Baudelaire é uma referência a Charles Baudelaire, e os nomes de Klaus e Sunny vêm de Claus e Sunny von Bülow, enquanto o nome do sr. Poe é uma referência provável a Edgar Allan Poe (seus dois filhos se chamam Edgar e Albert). Curiosamente, Charles Baudelaire conheceu Edgar Allan Poe, e Allan morreu de uma doença de tossir sangue, enquanto uma característica memorável do sr. Poe ao longo da série é sua tosse severa. Além disso, a maioria ou todos os habitantes da ilha no último livro da série têm nomes de personagens da peça A Tempestade, de William Shakespeare. Outra comparação é feita no quinto livro com o vice-diretor Nero, uma provável referência ao imperador romano homônimo, que, reza a lenda, tocou violino enquanto Roma era incendiada.
Não estou a fim de fazer spoilers, acho que o objetivo é fazer interpretações, na medida do possível, então, achei a série completa no 4 shared, e gostei da qualidade ( só digitar no oráculos, ponto!).

Por Jessica.



segunda-feira, maio 24, 2010

"Todos dos animais são iguais, mas uns animais são mais iguais que os outros."



"Os sete mandamentos

Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
Nenhum animal usará roupa.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.
Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais."



Outro do Orwell? Of course! Os livros dele não são bons, são excelentes, e a variada interpretação que podemos adquirir deles - e encaixá-los nos diversos contextos históricos é animadora! Vamos começar com o básico, ou pelo menos tentar. O livro se assemelha aos acontecimentos da Revolução Russa e do período Stalinista, sendo o autor socialista; crítico de Stalin - que poder ser comparado a Napoleão, o velho Major, à Lênin, e Bola de Neve, à Trotsky -; das falsidades que foram articuladas de um sistema que se distanciava do socialismo verdadeiro.

A Revolução dos Bichos é singular, e é o apeíron para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governos, além de demonstrar a ambição do ser humano, em busca do sonhado poder.
Senhor Jones era o dono da Granja e explorava o trabalho animal em benefício próprio – chamado acumulo de capital – e em troca dos serviços prestados, ele saldava com a alimentação (nem sempre era boa e necessária). Aí temos a visão de uma sociedade capitalista, tendo em vista que, quem mais trabalha é quem menos recebe.
A Revolução – proposta por “Major” - , a principio, visava a igualdade, o Animalismo, se corresponde ao socialismo - não existe propriedade privada, somente a igualdade, na qual todos buscam pelo chamado bem comum. Como a ideia proposta, logo no início, houve o socialismo democrático, com a participação geral de todos em assembleias, sob a liderança de Bola de Neve, e com a aceitação de todos os animais. O desejo de onipotência é representado pelo Napoleão, que passa por tudo e por todos para conseguir seus objetivos.
Tempo depois, instalou-se uma Ditadura na Granja, sem liberdade de expressão, e a sede de poder de Napoleão o faz entrar em contato com os homens para negociar, vender, ou seja, acumular riquezas, graças ao trabalho dos animais: empregados e mal remunerados.
A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque os direitos dos “animais” foram violados, ocasionando conseqüências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros, além de muita tortura.
A história mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação via sedução: Garganta persuadia os animais com argumentos convincentes e havia a aceitação geral, sendo ela pacifica as mudanças efetuadas; e a dominação através da força bruta: se houvesse rebelião contra a ordem era punido fisicamente, torturado pelos cães treinados e até mesmo levado à morte.
Para mais detalhes, consultem a obra, não existe nada melhor que uma interpretação própria, e existe o filme - pesquisas realizadas para a postagem dessa matéria, me permitiram dizer tal informação -, o nome é semelhante.

Por Jessica.

Livro para download, quando "bater a vontade" : http://www.adelinotorres.com/literatura/George%20Orwell-A%20revolu%E7%E3o%20dos%20bichos.pdf.





quinta-feira, maio 20, 2010

"Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério de ambos."



"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."



Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares

Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa.

quinta-feira, maio 13, 2010

"Aos olhos da saudade como o mundo é pequeno"



L’Albatros

Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule !
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid !
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait !

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer ;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.

Charles Baudelaire.
Da obra, Les Fleurs du mal.

Charles-Pierre Baudelaire - nasceu em Paris, no dia 9 de Abril de 1821, e faleceu na mesma cidade, dia 31 de Agosto de 1867 - foi um grande teórico e poeta da arte francesa. É considerado como um dos precursores do Simbolismo, mesmo tendo se relacionado com várias escolas artísticas, e sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
O livro, Les fleurs du mal, de onde retirei o poema, é um marco da poesia moderna e simbolista. Na sua primeira aparição o livro foi atacado pelo Le Figaro, e retirado das bancas poucos dias depois, acusado de obscenidade. Pouco tempo depois, foi posto novamente a venda (tiraram seis poemas), saindo a nova edição em 1860. A obra foi organizada em cinco seções:

• Spleen et Idéal (Tédio e Ideal)
• Fleurs du Mal (Flores do Mal)
• Révolte (Revolta)
• Le Vin (Vinho)
• La Mort (Morte)



Por Jessica.


Uma "rápida" sobre o autor (meu francês está enferrujado), não quero fazer uma leitura superficial dele, então prefiro deixar algo bom, e a interpretação da postagem, fica para quando houver tempo livre para voltar as aulas de francês (quem sabe ano que vem?). Se bem que a vontade de estudar alemão é superior.
Tem vários livros dele para download, mas achei todos em fracês e/ou traduzidos para o inglês, usem o oráculo para traduzi-los, ou façam uma lingua alternativa. Entretanto, caso alguém encontre em português, me mande, gostaria de ver como sai a tradução - mesmo eu acreditando que a sonoridade não deve ser semelhante. O que vale é a intenção, meu caro Watson!
Pelo menos um dos links, esse acho que já ajuda muito. <>.






sexta-feira, maio 07, 2010

"Alors vous arrachez tout doucement une des plumes de l'oiseau et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau."


Le message


La porte que quelqu'un a ouverte
La porte que quelqu'un a refermée
La chaise où quelqu'un s'est assis
Le chat que quelqu'un a caressé
Le fruit que quelqu'un a mordu
La lettre que quelqu'un a lue
La chaise que quelqu'un a renversée
La porte que quelqu'un a ouverte
La route où quelqu'un court encore
Le bois que quelqu'un traverse
La rivière où quelqu'un se jette
L'hôpital où quelqu'un est mort

de “Histoires” (1963)


Jacques Prévert, nascido em Neuilly-sur-Seine, 4 de fevereiro de 1900 , faleceu em Omonville-la-Petite, 11 de abril de 1977; e foi um poeta e roteirista francês. Sua primeira coletânea de poesias se chama Paroles (1946), e após ela, tornou-se popular, graças ao seu senso de humor, sua liguaguem de fácil acesso, seus jogos de palavras.
Além de poeta, Prévert é roteirista, e ironiza os costumes, o clero, a igreja, e seus roteiros e diálogos de grandes filmes franceses pertencem a escola do realismo poético,
realizados em sua grande maioria por Jean Renoir e Marcel Carné.
Sendo compositor, escreveu também a música "Les Feuilles Mortes", que foi muito famosa em seu tempo, na voz de Ives Montand. Mais tarde, Serge Gainsbourg compôs uma música chamada "La chanson de Prevért" que faz uma referência à canção citada mais acima.
Prévert revolucionou o tradicionalismo, através do jogo de palavras. Sua poesia é constantemente construída com jogos de linguagem -
neologismos são um bom exemplo - com os quais elea consegue efeitos cômicos e inesperados (um humor negro de vem em quando) , ambiguidades, entre outros.
Seus poemas também são ricos em jogos sonoros, combinações que brincam com a audição - várias aliterações, rimas e ritmos - que são fáceis, e habilmente utilizadas por Prévert. Além do mais, traços de surrealismo compõem seu estilo: listas de objetos, metáforas , personificações.

Por Jessica.

Ps: Achei vários poemas dele traduzidos, mas a sonoridade só pode ser percebida no francês, sinto!


Referências :

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<> .




sábado, maio 01, 2010

"Já te ocorreu que talvez não sejas assim tão grande? Que talvez seja este espaço que é demasiado pequeno?"

Esse é um dos filmes mais lindos que já vi (ah, tudo bem, digo isso para todos os filmes do Tim, não tenho culpa se ele é realmente bom, sinto!).
Edward Scissorhands é um filme da década de 90, que mistura terror e fantasia, dirigido por Tim Burton ( que recentemente dirigiu o filme Alice no País da Maravilhas) , com roteiro baseado em história de Caroline Thompson e Tim Burton. Um dos primeiros filmes que misturam Johnny Depp e Tim Burton.
O filme conta a história de Edward, um robô, que foi criado por um inventor (Vincent Price, o rei dos filmes de terror que fez esse personagem, é um dos maiores ídolos de Burton), e como peculiaridade ele possui no lugar das mãos, tesouras. Quando ia ganhar as mãos de presente de seu pai no Natal, o inventor morre, deixando o jovem só no mundo Certo dia, uma vendedora de cosméticos da Avon, bate na mansão que Edward mora isolado, e acaba por decidir levá-lo para casa.
Entretanto Edward tem muita dificuldade em conviver, devido principalmente ao preconceito demonstrado pela vizinhança. Mas aos poucos e poucos se vai tornado popular devido aos talentos que tem.
Creio que esse filme retrata de certa forma a ignorância (os diversos tipos de preconceitos que Edward passa, é um bom exemplo disso), ou seja, volto novamente à alegoria de Platão. A maioria dos filmes que vejo, pelo menos seguem essa linha, mas já que esse foi um dos primeiros que vi, gosto de sempre citá-lo. Além do mais, admiro os cenários feitos pelo Tim, são móbidos e os detalhes são decidimente lindos.

Por Jessica.

Esse filme é possível de achar em qualquer lugar, no links, sorry!
P.s: A frase que utilizei como título da postagem é de um outro filme do Tim, o chamado Big Fish. Quem sabe fica para uma próxima vez?!

terça-feira, abril 27, 2010

"O mais precioso dos perfumes"



Mas comer um homem? Nunca na vida se teriam julgado capazes de uma coisa tão horrível. E admiravam-se, mesmo assim, por terem cometido aquele acto com tanta felicidade e não sentirem, à excepção da falta de à-vontade, o mínimo peso na consciência. Pelo contrário! Tinham o estômago um pouco pesado, mas o coração alegre. Nas suas almas tenebrosas surgiu um repentino palpitar de alegria. E nos rostos pairava-lhes um virginal e suave brilho de felicidade. Era indubitavelmente esse o motivo por que receavam erguer os olhos e fitarem-se.
Contudo, quando se arriscaram a fazê-lo, primeiro de fugida e depois abertamente, não conseguiram reter um sorriso. Sentiam-se extraordinariamente orgulhosos. Era a primeira vez que faziam qualquer coisa por amor.


Estava tentando pensar o que escreveria hoje. Isso é algo tão difícil. É realmente confortante, mas adquirir ânimo em instantes para escrever algo bom, é tão demorado! Depois descarto o excesso, deixando somente o necessário - se é que isso existe.
Das Parfum, die Geschichte eines Mörders - O Perfume, História de um Assassino - é uma obra do escritor alemão, Patrick Süskind, foi publicado pela primeira vez em 1985. O livro foi inspirado nas teorias de Freud, e conta a história de Jean-Baptiste Grenouille, um homem que possui um olfato extremamente apurado, mas não "consegue sentir o próprio cheiro".
O "carrapado de Grenouille", como é chamado desde o início da obra, nasce no meio das tripas de peixe atrás de uma banca, tendo sua mãe executada tempo depois por infanticídio, passando assim pelos mais variados "tipos de maus-tratos". Após, é abandonado pela ama de leite, e é mandado a um orfanato (acaba assustando as crianças que tentam matá-lo), no qual descobre o "dom" que obtém. Durante a história, somente reparará na sua ausência de odor bem mais tarde, e será "compensada" de certa forma, pela criação de perfumes, que chegam a ser mais ou menos atraentes, utilizados por Grenouille, a fim de ser notado pelos outros.
Trabalhou como aprendiz de curtidor de peles e aprendiz de perfumista, e graças ao seu "dom", enquanto foi aprendiz de perfumista aprendeu diversas técnicas para a criação de perfumes - sendo um deles especial, o "perfume do amor".
Grenouille um dia encontra uma jovem, com um perfume totalmente diferente - guarda esse cheiro na memória -, e acabará por matá-la, já que o desejo de apoderar-se do seu odor. Mas, esta jovem é apenas uma das muitas jovens que o protagonista acaba por matar, tudo em busca do perfume perfeito - feito que adquire no final da obra.
Para finalizar "com chave de ouro", o "carrapato de Grenouille" volta a Paris - depois de ser perseguido e obsorvido das acusações de assassinato, relativo as várias jovens - e é partido aos bocados e comido por pessoas devido ao efeito do perfume que tinha posto: um final trágico para o protagonista - que fez uma das maiores descobertas da humanidade, o "odor do amor".

Devo detalhar que o objetivo principal da obra, que se chama "O Perfume", serve para encobrir o mundo dos fedores, dos crimes, das injustiças e da hipocrisia que caracterizam a cidade de Paris durante o século XVIII.

Por Jessica.

Livro, para quem sentir uma breve vontade < http://www.reidoebook.com/2009/06/o-perfume-historia-de-um-assassino.html > , e o filme é bom, gostei, mas nada substitui o livro, acreditem nisso!

segunda-feira, abril 19, 2010

"Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante."

Procura da poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície inata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

ANDRADE, Carlos Drurmmond de. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro:José Aguilar,1973.

domingo, abril 18, 2010

"(...) Vá, ragazzo innamorato..."

"Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia" ( William Shakespeare).

Para complementar meu pensamento, ou para fazer comparações, vou falar de algo realmente básico hoje, o conto "A Cartomante", de Machado de Assis. Foi publicado primeiramente na Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro, 1884), sendo incluído na obra Várias Histórias e em Contos: Uma Antologia. A história é narrada em terceira pessoa.
O conto é sobre a história de um triângulo amoroso entre Rita, Vilela e Camilo. Camilo e Vilela são grandes amigos, mas Camilo obtêm um caso com Rita (esposa de Vilela), e o caso ocorre pelo afastamento de Rita de Vilela pelo falecimento da mãe do mesmo. O romance começa com uma diálogo entre Camilo e Rita(sexta-feira de novembro de 1869), que "fala" das constantes visitas à cartomante (que é o quarto personagem), e Camilo nega-se a acreditar nas palavras da vidente.
A vidente é uma personagem que ludibria as personagens principais, desde Rita que crê na ideia de que cartomante pode resolver todos os suas angústias e problemas, até Camilo, que no fim do conto, quando está prestes a ter seu caso desmascardado com Rita, recorre à mesma, que o ilude de forma semelhante a todos os seus clientes. A cartomante usa alegorias, parecendo assim, sábia e "dona do destino", enganando Camilo, que sai depois do encontro, confiante, para a morte.
Logo no início, Machado cita Shakespear - Hamlet -, mostrando desde o princípio o fim trágico do conto, que tentamos reverter acreditando nas palavras da cartomante.Machado visa nessa obra que ceticismo vença a crença, o misticismo e a superstição (isso é o que os leitores querem de desde o começo, afinal é difícil "crer na realidade").

Por Jessica.

P.s: Para quem quiser leu, e jamais sentiu interesse, <
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/cartomante.html >. E para quem já leu e teve a boa vontade de ler outros posts antigos, comparem - foi o que disse antes de começas a escrever tudo isso. Até.

sábado, abril 17, 2010

"As ondas são anjos que dormem no mar (...)"


O Fantasma

Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!


Um pouco de Romantismo? Claro, isso é está entre uma das coisas mais fáceis da vida. Comecei lendo os poemas dele, são realmente bons, não nego, mas são melosos demais ás vezes ( devo repetir e dizer que é Romantismo?).
Manuel Antônio Álvares de Azevedo, nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1831 e faleceu no Rio de Janeiro, dia 25 de abril de 1852. Foi escritor da segunda geração romântica, a chamada Ultra-Romântica, Byroniana ou Mal-do-século
- até mesmo Spleen - inspirou-se em Lord Byron e Musset. Foi também contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro.
Para alguns teve uma vida boêmia, e para outros uma vida calma, entretanto suas poesias eram impregnadas de sarcamos e ironias, dor, uma visão surreal sobre o amor, idealizando ás donzelas. Além disso, tem uma ideia fixa sobre a morte, provavelmente pelos traumas que obteve durante a infância (a morte prematura do irmão e de colegas da faculdades), além do estado de saúde em que se encontrava - morreu aos 20 anos de tuberculose.
A dualidade é fortemente percebida em suas obras, que ora parecem ser sentimentais, e ora parecem ser trágicas (mas o pessimismo esteve como alicerce principal em sua obra).
Suas obras disponíveis:
  • 1853 Poesias de Manuel Antônio Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos (única obra preparada para publicação pelo autor) e Poesias diversas;
  • 1855 Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo, primeira publicação da sua prosa (Noite na Taverna);
  • 1862 Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo, 2ª e 3ª edições, primeira aparição do Poema do Frade e 3ª parte da Lira.
  • 1866 O Conde Lopo, poema inédito.

Por Jessica.

P.s: Gosto dele, acho que é bom você saber balancear o momento exato para cada tipo de poesia, já que existe um "grande leque" de variedades, para todos os gostos (propaganda é a alma do negócio, acima de tudo!).

sexta-feira, abril 16, 2010

"É muito mais fácil matar um fantasma do que matar uma realidade."







"All these voices sounded gratefully in St. John's ears as he lay half-asleep, and yet vividly conscious of everything around him. Across his eyes passed a procession of objects, black and indistinct, the figures of people picking up their books, their cards, their balls of wool, their work-baskets, and passing him one after another on their way to bed (The Voyage Out, Virgínia Woolf)."





Como se fosse uma continuação, de Sylvia para Virginia. Por que estou tão centrada assim ultimamente? Talvez nem eu saiba – ou não. Mas, vamos "trying to keep this". Mas, vou fazer a biografia antes - a da Sylvia me deu um desânimo, perdão por esse ato inaceitável!
Virgínia Woolf nasceu em Londres, 25 de Janeiro de 1882 e faleceu em Lewes, dia 28 de Março de 1941, e ainda é considerada uma das mais importantes escritoras britânicas. Estreou na literatura com The Voyage Out (romance, 1915), seguindo para Night and Day (1919), Jacob's Room (1922), Mrs. Dalloway (1925), The Common Reader (1925 - Primeiro volume), To the Lighthouse (1927), Orlando: A Biography (1928), The Waves (1931), The Common Reader (1932 - Segundo volume), Flush: A Biography (1933), The Years (1937), Roger fry (1940), Between the Acts (1941, publicado depois de sua morte), terminado com Contos Completos (1917-1941, uma coletânea ).
A obra de Virginia modernista (ainda estou devendo um resumo sobre os períodos da literatura, estou me sentindo sobrecarregada, da próxima vez faço um blog sobre algo mais chamativo e menos preocupante, lembrem-me disso!). O fluxo de consciência (utilizado por Clarice também) foi uma de suas marcas mais conhecidas e da qual é considerada uma das criadoras.
Casou-se com Leonard Woolf criando assim, em 1917 a editora Hogarth Press que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia sempre apresentou crises depressivas, e acabou cometendo suicídio em 1941.
Virginia também foi integrante do Bloomsbury, um círculo de vários intelectuais que, após a Primeira Guerra Mundial, se posicionou contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana.


Por Jessica.


P.s: Vamos combinar de comentar de algo mais calmo na próxima vez.

quinta-feira, abril 15, 2010

"Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos."

(...) Depois tudo passou e Macabéa continuou a gostar de não pensar em nada. Vazia, vazia. Como eu disse, ela não tinha anjo da guarda. Mas se arranjava como podia. Quanto ao mais, ela era quase impessoal. Glória perguntou-lhe:
- Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, embora isso custe dinheiro.
- É para eu não me doer.
- Como é que é? Hein? Você se dói?
- Eu me dôo o tempo todo.
- Aonde?
- Dentro, não sei explicar.
Aliás cada vez mais ela não se sabia explicar. Transformara-se em simplicidade orgânica. E arrumara um jeito de achar nas coisas simples e honestas a graça de um pecado. Gostava de sentir o tempo passar. Embora não tivesse relógio, ou por isso mesmo, gozava o grande tempo. Era supersônica de vida. Ninguém percebia que ela ultrapassava com sua existência a barreira do som. Para as pessoas outras ela não existia. A sua única vantagem sobre os outros era saber engolir pílulas sem ágúa, assim a seco. Glória, que lhe dava aspirinas, admirava-a muito, o que dava a Macabéa um banho de calor gostoso no coração. Glória advertiu-a:
- Um dia a pílula te cola na parede da garganta que nem galinha de pescoço meio cortado, correndo por aí.

Depois de falar de Clarice, pensei muito na ideia de colocar uma de suas obras mais conhecidas, "A Hora da Estrela". Esse foi a última obra de Clarice, que soou como uma despedida, já que pouco tempo depois ela morre - não gosto desses detalhes, afinal para mim, uma escritora como ela, jamais morre.
A história começa sendo narrada por Rodrigo S. M. , um escritor que chega a ironizar a própria obra, pelo estilo de narrativa que ele utiliza. O "narrador-personagem" conversa com o leitor, dizendo que se sente sufocado, e escreve porque se sente desesperado e cansado, e só escrevendo ele alcança novidades, e sem isso, já estaria morto. Após, Rodrigo revela que está escrevendo sobre a vida de uma pessoa tão simples - e está vestindo roupas rasgadas, faltando fazer a barba - , e durante o período que ele escreve (se dedica a esses livros), nem pensa, nem vê e faz nada que o influêncie.
Rodrigo conta a história de Macabéa (andei lendo uns detalhes realmente interessantes, e descobri que o nome da personagem vem de uma irônica comparação aos sete macabeus, personagens da bíblia), uma retirante nordestina, que logo após a morte de seus pais, passa a morar com uma tia, beata, que batia muito nela. Maca, muda-se de Alagoas para o Rio de Janeiro, passando a viver em um quarto com várias Marias na rua do Acre, só tinha até o terceiro ano do primário e trabalhando como datilógrafa - profissão da qual se orgulhava, mas não executava tudo com perfeição, errando diversas palavras, chegando quase a ser demitida, só que seu patrão, Raimundo, mediante o pedido de desculpas, diz que será "demitida mais adiante".
Macabéa era uma pessoa "vazia", fazia quase tudo mecânicamente, Rodrigo diz que ela "vivia em tanta mesmice que de noite não se lembrava do que acontecera de manhã". Quando sentia fome durante a noite, comia papel imaginando que era uma "coxa de vaca"; rezava toda noite (parou de frequentar a igreja, logo que sua tia morreu), mas não acreditva em Deus, porque ela não sabia como ele era, e para ela, ele não exitia.
Um dia, Maca mentiu para o patrão, dizendo que iria arrancar um dente, e pela primeira vez, deu-se o prazer de não fazer nada. Neste mesmo dia, pela tarde, ela arruma um namorado chamado Olímpio de Jesus - mentia se chamar Olímpico de Jesus Moreira Chaves, era nordestino também, e era uma pessoa muito pobre culturalmente, além de "judiar" muito da protagonista-personagem.
Uma das poucas coisas que Maca gostava, era tomar café frio (mesmo sentindo azia depois), pintar as unhas de vermelho, ir uma vez ao mês no cinema e ouvir uma através de um rádio emprestado, a chamada "Rádio Relógio" - com isso, novamente pode-se perceber a inocência que havia nela, e que foi literalmente "destruída": "Ouvia na Rádio Relógio que havia sete bilhões de pessoas no mundo. Ela se sentia perdida. Mas com a tendência que tinha para ser feliz logo se consolou: havia sete bilhões de pessoas para ajudá-la".
Pouco tempo depois, Olímpico termina o namoro com Macabéa, interessandos-se pela "colega de trabalho de Maca", a chamada Glória (Olímpico termina o namoro chamando ela de "cabelo na sopa", já a moça era "carioca da gema" e com ela obteria a ascensão social que tanto almeja.
Glória, se sente culpada e começa a conversar com Maca (tornando-se agora a única ligação que a moça obtém com o mundo), recomendando que ela vá em um médico (o "médico de pobre", que a trata mal e dá como diagnóstico o início de uma turbeculose, e receita um remédio que Maca não compra, acreditando que somente à visita ao médico irá curá-la).
Seguindo os conselhos de Glória, novamente, Maca vai a uma cartomante - chamada Madame Carlota -, onde recebe pela primeira vez a notícia que teria um futuro, se sente "grávida de futuro", mas acaba morrendo logo após, atropelada por um carro e tendo seu breve minuto como estrela (sendo rodeada por pessoas para ver seu corpo). Nesse exato momento Rodrigo também provavelmente morre com a Maca, acabando assim a história.
Comparo essa parte ao conto do Machado de Assis, gera o mesmo sentimento : um mistura de indignação com a situação de Macabéa, as injustiças que ela passou, e a certeza de que o final iria ser esse, por mais cruel que a realidade seja.
Por Jessica.
Sabe aquela sensação temporária do nada, a falta do "sentir" que Macabéa cita? Toda vez que termino de ouvir histórias que terminam de maneira previsível e inacreditáveis (para mim, isso é um paradoxo), como em A Hora da Estrela, O Mulato, e o conto do Machado que já citei, parece que elas afloram com um sentimento de culpa e impunidade, "não sei como agir com o mundo". Muito menos explicar tudo que falei anteriormente. Finjam que adiantou de algo.