domingo, maio 30, 2010

"Meu amor apareceu, o mundo empesadeleceu."

"Se alguma vez você já descascou uma cebola, sabe que a primeira camada, fina e papirácea, revela outra, e mais outra, e antes que você perceba terá centenas de camadas espalhadas pela mesa da cozinha, e milhares de lágrimas nos olhos, e lamentará ter começado a descascá-la e desejará ter largado a cebola para murchar na prateleira da copa enquanto você prosseguia com a sua vida, mesmo que isso significasse nunca mais desfrutar o sabor difícil e avassalador dessa hortaliça estranha e pungente."
(Desventuras em Série, Livro tredécimo, O Fim
de Lemony Snicket).


Li essa série no segundo ano, e até hoje, creio que ela ainda é uma, das várias, que deixou a dúvida necessária para criar os mitos ( ah, meu ponto de vista é o que conta, pelo menos aqui. ) A Series of Unfortunate Events, traduzido para Desventuras em Série, é uma série de treze livros que foi escrita por Lemony Snicket heterônimo de Daniel Handler, com a ilustração por Brett Helquist . A série narra as aventuras de três irmãos muito inteligentes, os órfãos Baudelaire. Violet Baudelaire, a mais velha, é uma inventora e tem catorze anos quando a série se inicia; Klaus Baudelaire, o irmão do meio, é um grande leitor e tem onze anos no começo da trama; e Sunny Baudelaire, a menor, é um bebê que gosta de morder objetos e fala em uma linguagem compreensível apenas para seus irmãos - a sua fala vai se desenvolvendo ao longo da série) A história começa do momento em que as crianças são informadas do falecimento de seus pais, em um terrível incêndio que ocorreu em sua mansão, destruindo-a. E já no primeiro livro, as crianças passam a viver sob a guarda de um primo distante, o Conde Olaf, um homem terrível que tenta roubar a enorme fortuna que seus pais lhes deixaram. A ambientação da história é retrocesso, e a série é repleta de alusões literárias e culturais.
Os livros são destinados para crianças, entretanto são escritos e lidos por adultos, e se formos fazer uma bela interpretação da série, diversas referências serão compreendidas - pelo menos para quem tem uma visão apurada, sure!
Começando pelos nome dos órfãos Baudelaire é uma referência a Charles Baudelaire, e os nomes de Klaus e Sunny vêm de Claus e Sunny von Bülow, enquanto o nome do sr. Poe é uma referência provável a Edgar Allan Poe (seus dois filhos se chamam Edgar e Albert). Curiosamente, Charles Baudelaire conheceu Edgar Allan Poe, e Allan morreu de uma doença de tossir sangue, enquanto uma característica memorável do sr. Poe ao longo da série é sua tosse severa. Além disso, a maioria ou todos os habitantes da ilha no último livro da série têm nomes de personagens da peça A Tempestade, de William Shakespeare. Outra comparação é feita no quinto livro com o vice-diretor Nero, uma provável referência ao imperador romano homônimo, que, reza a lenda, tocou violino enquanto Roma era incendiada.
Não estou a fim de fazer spoilers, acho que o objetivo é fazer interpretações, na medida do possível, então, achei a série completa no 4 shared, e gostei da qualidade ( só digitar no oráculos, ponto!).

Por Jessica.



segunda-feira, maio 24, 2010

"Todos dos animais são iguais, mas uns animais são mais iguais que os outros."



"Os sete mandamentos

Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
Nenhum animal usará roupa.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.
Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais."



Outro do Orwell? Of course! Os livros dele não são bons, são excelentes, e a variada interpretação que podemos adquirir deles - e encaixá-los nos diversos contextos históricos é animadora! Vamos começar com o básico, ou pelo menos tentar. O livro se assemelha aos acontecimentos da Revolução Russa e do período Stalinista, sendo o autor socialista; crítico de Stalin - que poder ser comparado a Napoleão, o velho Major, à Lênin, e Bola de Neve, à Trotsky -; das falsidades que foram articuladas de um sistema que se distanciava do socialismo verdadeiro.

A Revolução dos Bichos é singular, e é o apeíron para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governos, além de demonstrar a ambição do ser humano, em busca do sonhado poder.
Senhor Jones era o dono da Granja e explorava o trabalho animal em benefício próprio – chamado acumulo de capital – e em troca dos serviços prestados, ele saldava com a alimentação (nem sempre era boa e necessária). Aí temos a visão de uma sociedade capitalista, tendo em vista que, quem mais trabalha é quem menos recebe.
A Revolução – proposta por “Major” - , a principio, visava a igualdade, o Animalismo, se corresponde ao socialismo - não existe propriedade privada, somente a igualdade, na qual todos buscam pelo chamado bem comum. Como a ideia proposta, logo no início, houve o socialismo democrático, com a participação geral de todos em assembleias, sob a liderança de Bola de Neve, e com a aceitação de todos os animais. O desejo de onipotência é representado pelo Napoleão, que passa por tudo e por todos para conseguir seus objetivos.
Tempo depois, instalou-se uma Ditadura na Granja, sem liberdade de expressão, e a sede de poder de Napoleão o faz entrar em contato com os homens para negociar, vender, ou seja, acumular riquezas, graças ao trabalho dos animais: empregados e mal remunerados.
A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque os direitos dos “animais” foram violados, ocasionando conseqüências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros, além de muita tortura.
A história mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação via sedução: Garganta persuadia os animais com argumentos convincentes e havia a aceitação geral, sendo ela pacifica as mudanças efetuadas; e a dominação através da força bruta: se houvesse rebelião contra a ordem era punido fisicamente, torturado pelos cães treinados e até mesmo levado à morte.
Para mais detalhes, consultem a obra, não existe nada melhor que uma interpretação própria, e existe o filme - pesquisas realizadas para a postagem dessa matéria, me permitiram dizer tal informação -, o nome é semelhante.

Por Jessica.

Livro para download, quando "bater a vontade" : http://www.adelinotorres.com/literatura/George%20Orwell-A%20revolu%E7%E3o%20dos%20bichos.pdf.





quinta-feira, maio 20, 2010

"Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério de ambos."



"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."



Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares

Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa.

quinta-feira, maio 13, 2010

"Aos olhos da saudade como o mundo é pequeno"



L’Albatros

Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule !
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid !
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait !

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer ;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.

Charles Baudelaire.
Da obra, Les Fleurs du mal.

Charles-Pierre Baudelaire - nasceu em Paris, no dia 9 de Abril de 1821, e faleceu na mesma cidade, dia 31 de Agosto de 1867 - foi um grande teórico e poeta da arte francesa. É considerado como um dos precursores do Simbolismo, mesmo tendo se relacionado com várias escolas artísticas, e sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
O livro, Les fleurs du mal, de onde retirei o poema, é um marco da poesia moderna e simbolista. Na sua primeira aparição o livro foi atacado pelo Le Figaro, e retirado das bancas poucos dias depois, acusado de obscenidade. Pouco tempo depois, foi posto novamente a venda (tiraram seis poemas), saindo a nova edição em 1860. A obra foi organizada em cinco seções:

• Spleen et Idéal (Tédio e Ideal)
• Fleurs du Mal (Flores do Mal)
• Révolte (Revolta)
• Le Vin (Vinho)
• La Mort (Morte)



Por Jessica.


Uma "rápida" sobre o autor (meu francês está enferrujado), não quero fazer uma leitura superficial dele, então prefiro deixar algo bom, e a interpretação da postagem, fica para quando houver tempo livre para voltar as aulas de francês (quem sabe ano que vem?). Se bem que a vontade de estudar alemão é superior.
Tem vários livros dele para download, mas achei todos em fracês e/ou traduzidos para o inglês, usem o oráculo para traduzi-los, ou façam uma lingua alternativa. Entretanto, caso alguém encontre em português, me mande, gostaria de ver como sai a tradução - mesmo eu acreditando que a sonoridade não deve ser semelhante. O que vale é a intenção, meu caro Watson!
Pelo menos um dos links, esse acho que já ajuda muito. <>.






sexta-feira, maio 07, 2010

"Alors vous arrachez tout doucement une des plumes de l'oiseau et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau."


Le message


La porte que quelqu'un a ouverte
La porte que quelqu'un a refermée
La chaise où quelqu'un s'est assis
Le chat que quelqu'un a caressé
Le fruit que quelqu'un a mordu
La lettre que quelqu'un a lue
La chaise que quelqu'un a renversée
La porte que quelqu'un a ouverte
La route où quelqu'un court encore
Le bois que quelqu'un traverse
La rivière où quelqu'un se jette
L'hôpital où quelqu'un est mort

de “Histoires” (1963)


Jacques Prévert, nascido em Neuilly-sur-Seine, 4 de fevereiro de 1900 , faleceu em Omonville-la-Petite, 11 de abril de 1977; e foi um poeta e roteirista francês. Sua primeira coletânea de poesias se chama Paroles (1946), e após ela, tornou-se popular, graças ao seu senso de humor, sua liguaguem de fácil acesso, seus jogos de palavras.
Além de poeta, Prévert é roteirista, e ironiza os costumes, o clero, a igreja, e seus roteiros e diálogos de grandes filmes franceses pertencem a escola do realismo poético,
realizados em sua grande maioria por Jean Renoir e Marcel Carné.
Sendo compositor, escreveu também a música "Les Feuilles Mortes", que foi muito famosa em seu tempo, na voz de Ives Montand. Mais tarde, Serge Gainsbourg compôs uma música chamada "La chanson de Prevért" que faz uma referência à canção citada mais acima.
Prévert revolucionou o tradicionalismo, através do jogo de palavras. Sua poesia é constantemente construída com jogos de linguagem -
neologismos são um bom exemplo - com os quais elea consegue efeitos cômicos e inesperados (um humor negro de vem em quando) , ambiguidades, entre outros.
Seus poemas também são ricos em jogos sonoros, combinações que brincam com a audição - várias aliterações, rimas e ritmos - que são fáceis, e habilmente utilizadas por Prévert. Além do mais, traços de surrealismo compõem seu estilo: listas de objetos, metáforas , personificações.

Por Jessica.

Ps: Achei vários poemas dele traduzidos, mas a sonoridade só pode ser percebida no francês, sinto!


Referências :

<> ;
<> .




sábado, maio 01, 2010

"Já te ocorreu que talvez não sejas assim tão grande? Que talvez seja este espaço que é demasiado pequeno?"

Esse é um dos filmes mais lindos que já vi (ah, tudo bem, digo isso para todos os filmes do Tim, não tenho culpa se ele é realmente bom, sinto!).
Edward Scissorhands é um filme da década de 90, que mistura terror e fantasia, dirigido por Tim Burton ( que recentemente dirigiu o filme Alice no País da Maravilhas) , com roteiro baseado em história de Caroline Thompson e Tim Burton. Um dos primeiros filmes que misturam Johnny Depp e Tim Burton.
O filme conta a história de Edward, um robô, que foi criado por um inventor (Vincent Price, o rei dos filmes de terror que fez esse personagem, é um dos maiores ídolos de Burton), e como peculiaridade ele possui no lugar das mãos, tesouras. Quando ia ganhar as mãos de presente de seu pai no Natal, o inventor morre, deixando o jovem só no mundo Certo dia, uma vendedora de cosméticos da Avon, bate na mansão que Edward mora isolado, e acaba por decidir levá-lo para casa.
Entretanto Edward tem muita dificuldade em conviver, devido principalmente ao preconceito demonstrado pela vizinhança. Mas aos poucos e poucos se vai tornado popular devido aos talentos que tem.
Creio que esse filme retrata de certa forma a ignorância (os diversos tipos de preconceitos que Edward passa, é um bom exemplo disso), ou seja, volto novamente à alegoria de Platão. A maioria dos filmes que vejo, pelo menos seguem essa linha, mas já que esse foi um dos primeiros que vi, gosto de sempre citá-lo. Além do mais, admiro os cenários feitos pelo Tim, são móbidos e os detalhes são decidimente lindos.

Por Jessica.

Esse filme é possível de achar em qualquer lugar, no links, sorry!
P.s: A frase que utilizei como título da postagem é de um outro filme do Tim, o chamado Big Fish. Quem sabe fica para uma próxima vez?!